segunda-feira, 8 de junho de 2015

O CARATAM – MAIS UMA SANTA CRUZ DO CEARÁ-MIRIM.

Franklin Marinho Barbosa de Queiroz



O CARATAM é uma pequena Santa Cruz, localizada, geograficamente, entre as localidades de Primeira Lagoa e da Fazenda Cavalcanti, em terras que antigamente pertenceram a Vital de Oliveira Correia (um conhecido político e fazendeiro cearamirinense, filho do Major Oliveira, da Guarda Nacional, falecido em 12/11/1968).

Desconheço a origem do nome CARATAM, mas sei que foi palco de uma passagem do fabulário do Ceará-Mirim, bastante curiosa.
Havia um cidadão de idade avançada, chamado João Maria, um vaqueiro, que também era curandeiro e benzedor. Era considerado um homem de “rezas fortes”, sobretudo quando se destinava a dominar o animais domésticos enfurecidos ou desaparecidos.

O velho costumava montar uma jumenta, na qual percorria estradas, à procura de gado sumido. Quando chegava no campo, em que pastava aquela rês, fazia uma pequena fogueira em baixo de uma árvore de grande porte, nela subia e, lá de cima, ficava jogando dentro da fogueira acesa, pedacinhos de sebo de gado, fazendo produzir uma fumaça muito cheirosa. E o velho ficava a rezar, pedindo para aquela rês aparecer. Repentinamente a rês aparecia para cheirar a fumaça da fogueira e, de onde ele estava, de cima da árvore, ele laçava certeiramente o animal. Em seguida, montava a sua jumenta e, com a rês dominada, a conduzia com facilidade, como se fosse um animal doméstico.

Numa dessas viagens, à procura de rês desaparecida, o velho não voltou mais. Foi a derradeira. A sua jumenta voltou só, chegando em casa sem a montaria e sem nada.
Tempos depois, um caçador, sentindo-se muito cansado procurou uma árvore que lhe protegesse, aos pés da qual deitou-se e adormeceu. Acordou-se com uma sensação de que estava sendo puxado, foi quando ele percebeu que havia se deitado em cima de um “couro velho”, mas que, na realidade, era uma perneira de vaqueiro, onde havia, dentro dela, uma caveira. Tudo isso estava coberta de folhas, amontoadas pelo tempo. Tal fato despertou a curiosidade do o caçador que, se aprofundando nas buscas, encontrou a caveira de um cachorro e uma velha sela. Aquela era a caveira de João Maria, o vaqueiro rezador, um homem de Deus.

Deduz-se que o velho João Maria, tendo se sentido mal, deitou-se naquele local, soltando a jumenta, que na certeza dele, iria para sua casa. Mas a cadela, fiel ao amigo, ali ficou, onde morreu de fome, mas continuou fiel ao seu escudeiro.

No local onde foi encontrada a caveira do velho João Maria, foi construída uma Santa Cruz, que passou a ser palco de visitação constante, de pessoas de vários recantos do nordeste, que ali chegavam para pagar promessas feitas ao homem santo, que continuou a ajudar as pessoas humildes depois de morto, com os seus pretensos milagres – de acordo com a crendice popular.
Não conheci o velho João Maria, que viveu em outra época, conheci o Venceslau, um sobrinho e filho de criação seu, herdeiro da sua arte. Era também curandeiro, embora vivesse de fazer relho de couro de boi e também velas, feitas de sebo de gado, que vendia nas portas das casas de farinha, no interior, montado também numa velha besta. Este foi amigo de meu pai.

A Santa Cruz eu conheci e, se o tempo ou o homem não a destruiu, está lá, para corroborar mais esta estória das história de Ceará-Mirim. 
Foram tempos que vivi, que de longe ficou. Vivo o Ceará-Mirim de hoje, com lembranças no passado.
Um dia ao acordar, eu disse:
Ceará-Mirim,
Não sei se te encanto ou desencanto
Mas é a ti
Que amo tanto.


Franklin Marinho é ocupante da Cadeira número 22 da ACLA