quarta-feira, 20 de maio de 2015

BARTOLOMEU CORREIA DE MELO




                 BARTOLOMEU CORREIA DE MELO 


Intelectual de primeira grandeza, foi um dos integrantes da equipe que idealizou a criação da ACLA. Depois, com o agravamento da sua saúde, desistiu de integrar a Academia, sob o pretexto de que “estava mais para Patrono do que para Acadêmico”, e a pilhéria, tristemente, tornou-se realidade. É o patrono da Cadeira número 25, ocupada pelo Acadêmico Ormuz Barbalho Simon
etti.
Bartolomeu Correia de Melo era cearamirinense por adoção. Amava tanto a terra dos canaviais, onde passou a melhor parte de sua infância, que a ela dedicou a sua literatura. Começou a escrever já maduro – com mais de cinquenta anos. Durante todo esse tempo, amadureceu a sua prosa e o vinho, doce que nem o mel de engenho, da devoção à sua cidade. 

Escreveu dois livros de contos, Tempo de Estórias e Lugar de Estórias em que o cenário é uma recriação do Ceará-Mirim de sua juventude, tornado imemorial pelas características universais e pela temática, atual ainda hoje. E os personagens são os tipos que povoaram aquela época, ora rebatizados e temperados com uma pitada deliciosa de ficção, onde o humor, as pequenas-grandes tragédias dos homens e mulheres do povo e os seus hábitos, são exibidos com invejável maestria. 

Além de uma prosa aliciadora, dessas que deixam saudade quando termina e que nos socorre da solidão, ele criou uma linguagem recolhida da fala do seu povo. Uma espécie de dialeto que os cearamirinenses e todos os que viveram à margem dos canaviais e dos engenhos de açúcar, entendem. Bartolomeu é criativo e original, tanto na tessitura das suas estórias, quanto no poder comunicativo da sua linguagem.

O escritor de “Tempo de Estórias” pode ser lembrado como um dos reinventores da “Escola de Ceará-Mirim” que, contemporaneamente apresenta expressões literárias como Franklin Jorge, Inácio Magalhães de Senna e Pedro Simões, entre outros, responsáveis pela recorrente busca de sua terra e pela criação de uma linguagem inserida neste contexto memorial.
O livro "Musa Cafusa" foi publicado após a sua morte.

TEOREMA
Passa da conta. A nossa tabuada
resulta um teorema esquisito:
"Eu mais você somados somos um,
pois, eu menos você, não resta nada,
num vazio de adeus quase irrestrito."
Nós anulados, sem fator comum,
somos inequação desesperada,
binômio sem afago nem afeto.
Pelo " princípio do pudor nenhum",
gemendo imprecisões, recalculamos
a tangente raiz do nosso grito;
teimando soluções, multiplicamos
razões pra dividir nosso infinito...
E assim, a divergir, nos igualamos,
nesse amor inexato, mas bonito.