sexta-feira, 20 de setembro de 2013

NAS AREIAS DA PRAIA DA PIPA UM LAMBE-LAMBE PORTENHO


         A Pipa é aquela praia aonde tudo acontece. Chego mesmo a afirmar que ela tem poderes místicos de atrair coisas que vagam pela terra ou pelo mar, e um belo dia, inexplicavelmente, encalha em suas areias.
       
    Hippies de todos os “espécimes”, excêntricos para todos os gostos, profissionais diversos, artistas, desocupados e pessoas que por vários motivos desejam permanecer no anonimato, têm encontrado nessa boa e acolhedora praia, o lugar ideal. A deficiência no policiamento, aliado ao grande número de andarilhos que anoitecem e não amanhecem, fazem da Pipa o paraíso dessa gente.
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Mesmo na baixa estação, é grande o fluxo de pessoas advindas principalmente de Natal e João Pessoa, que chegam para se deliciarem de sua diversificada gastronomia, de padrão internacional, ou mesmo, curtirem a noite da Pipa, com seus bares e boates para todos os gostos e bolsos. Por conta dessa grande quantidade de flutuantes anônimos é que não raro, bandidos procurados pela justiça, escolhem este paraíso para se refugiar, naturalmente, desfrutando de certa tranquilidade. Aqui, além de contar com a costumeira acolhida nordestinamente pipeira, contam também o completo anonimato.
   
Acervo do autor


        Na semana passada, estava no alpendre de minha casa com alguns amigos, quando divisei ao longe, a imagem ainda difusa, de uma figura que logo me remeteu a década de 60. À medida que se aproximava, um turbilhão de lembranças misturava aquela excêntrica criatura as antigas ruas e praças de Natal da minha infância e adolescência.

Praça Pedro Velho - Natal


Caminhava vagarosamente pelas areias da praia, como se procurasse algo. Ao chegar mais perto pude enxergá-lo melhor. Tratava-se de um lambe-lambe! Carregava no ombro, com o tripé voltado para frente, aquele surrado caixote onde de um lado se encaixa um conjunto de lentes esquisitas, e do outro, um folgado pano preto cobrindo toda a extremidade do caixote.
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Lembranças de minha infância chegavam com uma nitidez impressionante. Dos passeios na Praça Pedro Velho quando podíamos encontrar os fotógrafos da época, munidos com suas modernas rolleiflex como também os lambe-lambe que pacientemente, sentados em tamboretes em baixo dos fícus benjamina, aguardavam os clientes. Também era comum encontrá-los no Quitandinha no bairro  do Alecrim e na Av. Rio Branco em frente ao antigo Mercado da Cidade, onde atualmente funciona a Agência do Banco do Brasil.

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Na Ribeira faziam ponto em frente a CR – Circunscrição do Serviço Militar - aonde recrutas chegando principalmente do interior de estado, se aglomeravam desejosos para se alistarem nas fileiras das forças armadas, ou “assentar praça”, como costumava definir os que residiam no interior do Estado. E esses candidatos a praças, normalmente se valiam dos serviços do lambe-lambe, bem mais em conta que os fotógrafos convencionais e com a vantagem de receber a fotografia em poucos minutos.
      
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       Não pude deixar passar aquela oportunidade de registrar tão curiosa figura. Invertendo os papeis, solicitei ao retratista permissão para fotografá-lo junto com sua câmara lambe-lambe.
         
         Percebendo seu sotaque portenho perguntei a cidade onde nascera. Disse chamar-se Daniel Doval e que havia nascido no ano de 1961 na província de Entre Rios ao norte de Buenos Aires.    Revelou que nunca gostou de trabalhar em estúdio e sempre foi fotógrafo de rua, com predileção em fotografar turistas. Começou sua carreira profissional tirando fotos pelas ruas e avenidas de Buenos Aires principalmente no bairro de San Telmo onde morava. Conversa vai, conversa vem, foi me contando um pouco de sua história de vida.
          

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Certo dia resolveu mudar o estilo e arriscou atrair os pretensos clientes nas fotos de “minuteira” como é conhecido nosso lambe-lambe na Argentina e aí já se vão quinze anos. A denominação vem, desde que foi criado no século XIX, pois as fotos eram reveladas em minutos. Já a denominação de lambe-lambe faz alusão ao fato do profissional lamber a foto após o processo de lavagem, identificando a qualidade da revelação, quanto à eliminação dos sais. Se a fixação tiver sido completa, os sais doces solúveis serão eliminados facilmente na lavagem da foto. Esse processo tornará o tempo de vida útil da fotografia indeterminado.  Caso contrário, os sais amargos, insolúveis, bem como os de sabor metálico não poderão ser eliminados. Neste caso, a vida da fotografia estará seriamente comprometida.
      
      Nas ruas de Buenos Aires trabalhando com a “minuteira”, percebeu que a grande maioria dos seus clientes era composta por brasileiros em passeio turistico àquele pais. Então pensou: “se aqui está dando certo, lá será muito melhor”! Não teve dúvidas: botou a viola no saco, deixou para trás três esposas, quatro filhos e rumou para o Brasil.
      
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     Em 2009 chegou em Paraty no Rio de Janeiro, onde trabalho por dois anos. Com espirito de giramundo parte para a região nordeste e vai oferecer seus serviços profissionais em Olinda-Pe, cidade turístia que muito ouvira falar quando ainda morava na Argentina. Naquelas ruas entre um instantâneo e outro,  soube da praia da Pipa. Dias atrás desembrcou em nossas areias e se descobriu, segundo ele, num verdadeiro paraíso. E a exemplo de vários outros que aqui chegaram, também demonstrou grande desejo de fixar residência.

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 No dia seguinte ainda o vi vagando por entres as barracas na beira da praia com sua “minuteira” descansando em cima do ombro, atraindo a atenção dos turistas. De quando em vez atendia a solicitação de um freguês que desejava registrar à moda antiga e em preto e branco, aquele momento de descontração. Depois disso, não tive mais notícias do “Don Ruan” argentino. É bem possível que tenha retornado ao seu país, afinal quando partiu deixou para trás, quatro hijos e  três mujeres loucamente apaixonadas.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013



O decano literalmente nos DEU UM CANO. Esperou até o último instante para nos apunhalar. Apunhalou uma sociedade humilhada, cansada, massacrada pela força poderosa e devastadora dos corruptos. Deixou para sua história e da mais alta Corte de nosso país, um exemplo triste que certamente irá envergonhar seus descendentes por muitas gerações. Como um otimista irrecuperável acreditei até o ultimo instante que o Brasil teria uma chance. Ledo engano. Perdemos mais uma vez. Paciência. Esse gesto certamente não é da MÃO NA CONSCIÊNCIA, na verdade ele se preparava pra oferecer solenemente seu de DEDO ao povo brasileiro. Um dia descobriremos quanto custou esse tresloucado voto do ministro que gastou 2 horas e 10 minutos justificando o injustificável.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

DE VOLTA AO PASSADO VII – ANTIGOS BLOCOS CARNAVALESCOS – ÚLTIMA PARTE


Finalmente chegamos ao último artigo sobre os antigos blocos carnavalescos. Como dissemos na crônica anterior, esses blocos deixaram de animar as ruas e avenidas de nossa capital, após o acidente ocorrido com o bloco “Puxa Saco” no ano de 1984, que ficou conhecido como “A Tragédia do Baldo”. Entretanto, os blocos que saiam à moda antiga com alegoria, orquestra e puxados com trator, deixaram de existir já em meados dos anos 70. Os que permaneceram diferiam dos tradicionais, pois não se utilizava o sistema de alegorias, deslocavam-se a pé e o número de componentes era bem maior. Guardadas as devidas proporções, assemelhavam-se em muito aos blocos que hoje desfilam por ocasião do insistente Carnatal.  

                               CARNATAL - Imagem internet

Os antigos blocos carnavalescos tiveram o mesmo destino que as nossas saudosas “serenatas” - musicas cantadas no sereno -, costume boêmio que herdamos no sangue lusitano, dentre outras coisas vindas da Península Ibérica. Quando em 1972 parti para São Paulo Capital, onde assumiria o meu primeiro emprego no Banco do Brasil, a prática das serenatas em nossa turma ainda era comum. Reuníamos nos bares de então para os ensaios e lá pela madrugada iniciávamos as serenatas, de preferência na casa da namorada de alguém da turma. 

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Naquela época o percurso era feito a pé, o que limitava nossa atuação e os bares escolhidos para os ensaios ficavam estrategicamente próximos das casas a serem visitadas. Posteriormente vieram os carros, geralmente ganhos por um de nós, como prêmio por ter obtido aprovação no concurso do vestibular, melhorando, assim, o alcance e o número de casas visitadas.


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Quando do meu primeiro retorno a Natal em 1974, poucos eram os que se aventuravam nessa prática, pois a evolução musical dos ritmos e estilos, já empurrava o jeito melodioso e poético das musicas cantadas em serenatas para a marginalidade. Além do mais esse tipo de música e seus intérpretes eram taxados de piegas. Diziam-se bregas, cafonas etc.
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Entretanto, não era o que acontecia em Conservatória, distrito de Valença no estado do Rio de Janeiro. Em 1975, ainda morando do Rio, tive a oportunidade de passar um fim de semana prolongado nessa encantadora cidade. No primeiro dia, ao cair da tarde quando as luzes tênues pendentes dos postes de madeira começavam a iluminar a velha cidade, fiquei arrebatado com o som que vinha das ruas. A princípio distante, depois aos poucos começou a se aproximar da casa onde estávamos hospedados. Em dado momento, surgiu no início da rua um grupo de pessoas, na maioria formado por casais que caminhava cantado ao som de violões plangentes, tangidos magistralmente por músicos, que acompanhado de suas namoradas, esposas e amigos peregrinavam pelas centenárias ruas estreitas da cidade enchendo o ar e o coração dos ouvintes de uma melodia tão bela, que naquele instante nos pareceu hinos celestiais.

                                      Imagem Internet

No outro dia, andando pela cidade, pudemos observar que em cada casa daquela rua e de outras também, havia uma placa afixada na parede com a data da serenata e o nome do compositor da canção executada. Fiquei impressionado e maravilhado com aquela tradição, que se mantém até os dias de hoje.

                                        Imagem Internet

Quando retornamos para Natal, em 1976, perguntei aos amigos se ainda aconteciam as nossas serenatas.Tive como resposta frases de reprovação: tá doido? Isso é coisa de brega! Conformei-me e silenciei quanto a minha experiência na cidade de Conservatória. Não valia à pena dizer o que tinha visto e sentido. Para eles não fazia a menor diferença, afinal minha cidade havia crescido e com ela a mentalidade cosmopolita daqueles amigos.
        
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Mas, de volta aos antigos blocos carnavalescos, em 2010 um grupo de amigos, remanescentes dos blocos  Lorde’s e Apaches, movidos pelo saudosismo, resolveram literalmente “botar o bloco na rua”. Fizeram algumas reuniões, ao modo como fazíamos naqueles “anos dourados” e foram à luta: contrataram orquestra, conseguiram o trator e as caçambas. 
APACHES - 2010

O desenho e a pintura da alegoria ficou, como sempre, a cargo do artista plástico Levi Bulhões. Teve como primeira formação os seguintes foliões, que na quase totalidade eram acompanhados por suas esposas: Beto Coronado, os irmãos Claudinho e Sezio Ribeiro Dantas, Minervino, Levi Buhões, Marcos Monte, Julio Andrade, Mauricio Tarcino, Iog Pacheco, Alfredo, Jaime Paiva, Sergio Amarelinho, Rafael Maux, João Cláudio (Joê) e José Bezerra (Ximbica).

                                            APACHES  2011

No sábado de carnaval daquele ano, retornava as ruas de Natal “OS APACHES” com admiração e saudosismo dos mais velhos que tiveram o privilegio de conhecer ou mesmo de participar dos antigos blocos carnavalescos.
APACHES - 2013

         A partir de 2011, continuam saindo mesmo sem alegoria, entretanto, não dispensam a orquestra que no ano passado foi composta por dez animados músicos. Vestidos com fantasia simples onde se destaca o nome do bloco na camisa, reúnem-se, inicialmente na casa de Beto Coronado. De lá, partem para os bares da vida de preferência no circuito da praia de Ponta Negra, compartilhando alegria, tocando a tradicional e boa musica carnavalesca composta de frevos e machinhas e, naturalmente, como bons saudosistas, evocando os tempos que não voltam mais.