domingo, 21 de abril de 2013

VIDA DE GENEALOGISTA



Sou um genealogista – mas acalmem-se, pois não é contagioso. No fundo, a gente queria que fosse, mas não é. Um genealogista é um sujeito que resolve desenterrar toda a história familiar para descobrir quem eram e o que faziam os seus antepassados mais remotos. Um doido, portanto. Para conseguir isso, ele mexe em todos os papéis velhos da família – aqueles que você acha que não valem nada, mas que ele dará um grito de satisfação quando encontrar. Fará perguntas insistentes a cada membro da família.

Quer saber os mínimos detalhes de coisas que você com certeza não se lembra. É capaz de passar horas metido em um cartório, casa paroquial ou arquivo histórico remexendo livros velhos, amarelados e cheio de fungos. Isso porque ele PRECISA esclarecer algum mistério na história da sua família e assim descobrir quem foram realmente as pessoas que o antecederam.

Esta é uma imagem digna de nota: o genealogista, em uma sala silenciosa, absolutamente concentrado em sua pesquisa. Eis que de repente ele vislumbra um registro e pensa: “Será possível?”. Excitado, confere de novo. Sim, ele achou exatamente aquilo que procurava. É nesse momento que todos os genealogistas têm vontade de gritar a plenos pulmões “ACHEI, ACHEI! EUREKA!” – muitos se contém, mas é exatamente isso o que ele murmuram para si mesmos. E se alguém estiver perto e quiser saber o que o sujeito descobriu, provavelmente vai se decepcionar ao ver que foi apenas um registro de casamento super antigo que deu a ele o nome de quatro novos octavós ou coisa do tipo.

Aos poucos, o genealogista vai montando a sua árvore genealógica. Descobre antepassados que ninguém da sua família fazia a menor ideia que tivesse. No começo, ele conta as suas descobertas com entusiasmo. Alguns parentes demonstram certo interesse – e em seguida esquecem absolutamente tudo o que o genealogista disse.

Para uma pessoa normal, qualquer coisa acontecida há cem anos foi praticamente na pré-história. E então o genealogista despeja em cima dela informações de 1800, 1700, 1600… É quando vem a famosa frase, que todo genealogista um dia ouve: “Você vai acabar chegando no Adão!”.
Com o tempo, o genealogista percebe que sua paixão é solitária. Não há registro de um casal de genealogistas, por exemplo. E seria até temário pensar em algo assim, pois eles certamente se esqueceriam de viver. Em geral, o genealogista não encontra no dia a dia quem lhe compreenda. Há parentes distantes que acham estranho esse interesse pelo passado da família e insinuam que o genealogista está de olho em alguma herança. Felizmente há a internet, e nela o genealogista encontra outros genealogistas, e eles se juntam em grupos de cooperação mútua, mais ou menos como os alcoólicos. Nessa troca de informações, conseguem verdadeiros prodígios, e se não chegam mesmo até o Adão não é por falta de esforço.

Os nossos Sherlocks ainda precisam lidar com garranchos, registros omissos ou contraditórios entre si, além de dificuldades no acesso a documentos. Parafraseando Einstein: perto do que foi o passado, aquilo que o genealogista consegue descobrir é algo de tosco e primitivo – mas é também aquilo que temos de mais precioso sobre ele.


sexta-feira, 19 de abril de 2013

COMUNICADO AOS POTIGUARES -




Caros confrades e população do meu estado.

No último dia 15 de abril, a Nova Diretoria do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte completou os primeiros 30 dias de administração.
Gostaríamos, nessa ocasião, de fazer uma pequena prestação de contas das nossas ações, na constante busca de melhorias no funcionamento dessa centenária instituição cultural, com vistas a propiciar aos pesquisadores e população em geral, melhores condições na realização das pesquisas, quando da utilização do nosso acervo, composto por mais de 50.000 títulos.    

A Nova Diretoria do IHGRN trabalha em ritmo acerado. Já realizamos visitas em busca de apoio a nossa Instituição aos seguintes órgãos: IPHAN, Sr. Onésimo Santos; o CREA Sr. Modesto Ferreira dos Santos; a FECOMERCIO, Sr. Marcelo Queiroz; UFRN, reitora Ângela Maria Paiva; CAERN, Sr. Yuri Queiroz Pinto;  SEBRAE, Sr. José Ferreira de Melo (Zeca Melo); Gabinete Civil, Sr. Carlos Augusto Rosado; a Prefeitura Municipal, Sr. Carlos Eduardo Alves; a FIERN, Sr. Amaro Sales; o Armazém Pará, empresário Marcantoni Gadelha; e Miranda Computação, empresário Afrânio Miranda.

Fomos visitados, a nosso convite, pelo Presidente da Assembleia Legislativa, deputado Ricardo Motta e a Secretária Extraordinária da Cultura, Isaura Amélia Rosado.
Em todas as entidades visitadas fomos recebidos de barcos abertos, e com inegável entusiasmo por parte dos anfitriões. Isso se deve a notória respeitabilidade ao nome do IHGRN, a mais antiga Instituição cultural de nosso Estado e uma das mais antiga do Brasil.

As sementes foram lançadas a terra. A colheita está por vir. Esperamos que seja rápida e profícua, para que possamos dividi-la com todos os que nos procura, através de urgentes e necessárias melhorias na estrutura física e intelectual da Casa da Memória.  
Reativamos nosso blog – WWW.ihgrn.blogspot.com, que esta sendo alimentado com texto, fotos e informações de nossas atividades junto ao IHGRN.
Esperamos continuar contando com a colaboração de todos: governos, empresários, entidades públicas, privadas e população em geral.

O IHGRN é uma entidade privada, pertencente ao povo do Rio Grande do Norte, guardião de um patrimônio de mais de 400 anos, principalmente de nossa história, e que se encontra permanentemente a disposição de todos os que nos procuram.
A recuperação do IHGRN é urgente e de responsabilidade de todos. Este é o pensamento da Nova Diretoria.


segunda-feira, 15 de abril de 2013

VAMOS AJUDAR O INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO                    DO RIO GRANDE DO NORTE-IHGRN.




                      Visite nosso BLOG:  WWW.ihgrn.blogspot.com

sábado, 6 de abril de 2013

COMENTÁRIOS


Blogger Augusto disse...
Incrível a riqueza de fatos e nomes da época de ouro de nosso carnaval aqui enumerados em seu artigo.
Lembro que nosso vizinho Jahyr Navarro (irmão de Jurandyr) saia no Karfajestes e eu tinha a curiosidae de saber a origem do "r" do nome.
6 de abril de 2013 12:30
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sexta-feira, 5 de abril de 2013

DE VOLTA AO PASSADO VII – ANTIGOS BLOCOS CARNAVALESCOS- Parte I



         Por mais de quatro décadas, entre 1945 e o final dos anos 80, desfilaram pelas ruas e avenidas da cidade de Natal, um tipo de bloco carnavalesco que só existia em nossa aldeia. Eram os chamados “blocos de elite”. Essas agremiações geralmente tinham suas origens nas turmas de amigos de bairro ou de colégio. Com um número de componentes bem mais reduzido, em relação aos blocos de hoje, que chegam a contar com mais de 1000 participantes, nos blocos daquela época o número de participantes girava em torno de 30 a 40 componentes.

Uma das condições básicas para participar dessas agremiações era conhecer alguns de seus componentes. Havia também os novatos, aqueles que chegavam de outros estados ou mesmo do nosso interior, para passar o período carnavalesco na casa de parentes ou amigos. Quando acontecia de algum membro dessas famílias participar de algum bloco carnavalesco, fatalmente o visitante era convidado a se integrar a esse bloco. Entretanto, só era possível sua admissão se contasse com a aprovação de todos os componentes. O mesmo não ocorria quando o pretenso participante era do sexo feminino. Nesses casos, sua entrada era aprovada sem maiores delongas. 

A presença feminina nos blocos daquela época ocorreu no início dos anos 60, quando o bloco Milionários do Ritmo, exibiu em sua alegoria componentes dos “Brotinhos Indomáveis”, uma extensão do bloco na versão feminina, composto em sua maioria, pelas namoradas dos participantes. Entre seus componentes destacamos: Sônia Simonetti, Carminha, Eunice, Eloisa, as irmãs Graça e Lúcia Galvão, Noelza Saldanha, Eunice Lyra, Paula, as irmãs Isolda e Idalma, Dilma Ribeiro e outras.
       
        Na década de 50, os blocos bem mais elaborados e estilizados, desfilavam em local pré-determinado pela Prefeitura e concorriam a prêmios, oferecidos pelo Poder Municipal, nos quesitos fantasia, samba-enredo e bateria.

Nessa época era comum ver pelas ruas “troças” e “bagunças” que se formavam nos bairros e saíam pelas ruas animando as manhãs de carnaval, com destaque para os papangus – denominação para as pessoas que se disfarçam vestindo trapos, usando máscaras e adereços e saem às ruas sozinhas ou em grupos, durante os dias de carnaval.  
                                    Deliciosos na folia

De 1956, a 1966, Os Deliciosos na Folia, um dos blocos mais antigos de Natal desfilava e concorria a prêmios no período carnavalesco. Entre seus componentes estavam: Carlos Gomes, Múcio Nobre (magro), Airton Ramalho (compositor) Oldeman da Confeitaria Atheneu, Airton Lepolodo, Daniel (baixinho) Zilson Eduardo Freire, pai do atual presidente da OAB, Francisco Eider Lopes, filho do famoso saxofonista Mainha, Betinho, o rei do passo, Lelé do Trombone, irmão do saudoso violonista Efrain, Picado do Trio Goiamum, e outros. Tinha como principal rival a agremiação Ases do Ritmo, formada justamente por alguns dissidentes. Dentre seus componentes podemos citar: Arnaldo França, Evaniel Máximo de Souza, os irmãos Wallace, grande jogador de futebol, e Wilton Gomes da Costa, Odúlio Botelho, Severino Manoel dos Santos, Luiz MeirelLes e Jader Correia da Costa, juízes de futebol, Badeco, funcionário dos Correios, Vavá do Surdo, Canelinha, sobrinho do humorista do mesmo nome, José Botelho também conhecido como Cabo Zé, que era o mascote.
                                  Deliciosos na folia

Também se constituíam em grandes adversários na disputa das premiações os blocos Imperadores do Samba e o famoso Aí vem a Marinha, formado por fuzileiros navais, marinheiros e até mesmo oficiais, geralmente procedentes do eixo Rio/São Paulo, que aqui chegavam para servir, por determinado período, na Base Naval de Natal e no CIAT- Centro de Instrução Almirante Tamandaré. Com muito samba no pé e exibindo belas alegorias, atraíam a atenção, principalmente das moçoilas casadoiras.
                                         Clube Albatroz
Temos conhecimento, também, que os sargentos da Aeronáutica, criaram um animado bloco carnavalesco, se não me falha a memória de nome Albatroz, deixando como legado o clube do mesmo nome, defronte a eterna “Praça Pedro Velho”. 
                                      Praça Pedro Velho
Na década de 60, recordo apenas de sete blocos. Bacurinhas, Plebe, Jardim de Infância, Karfajestes, Cacarecos, Xamego, e Milionários do Ritmo, conhecido somente como Milionário. 

Mesmo com pouca idade, tinha muita aproximação com a turma dos Milionários, pois se reunia na esquina do Cinema Rio Grande, na confluência da Rua Assu com a Avenida Deodoro da Fonseca, bem próximo de minha casa. Além do mais, o presidente do bloco era Valério Marinho, na época namorado minha irmã, que posteriormente seu marido.

Do bloco Milionários cito alguns de seus componentes que ora me recordo: Cláudio Procópio, Marconi Furtado, Hamilton Dantas, Sinval, Decio Teixeira de Carvalho, Franklin, Ronaldo Rocha, Eduardo Maia (mamão), Nelson Cocada, Marcos Formiga, Orson, Galego Franklin, Manoel Maia entre outros, além de Fernando Bezerra que depois passou a integrar o bloco Plebe.
      
         A história da fundação do bloco “Os Karfajestes” podemos dizer que foi um tanto inusitada. Começou quando um dos integrantes do bloco Bacurinhas namorava uma moça e sua futura sogra não o suportava, nutrindo pelo pobre rapaz uma gratuita antipatia, e a explicitava sempre que era possível. Protegia a donzela como um cão de guarda protege seu dono. A mãe zelosa, por não aprovar o namoro, sempre procurava um jeito de menosprezá-lo. Certo dia, ao chegar à casa da “sogra” cumprindo o ritual do namoro, esta o recebeu como de costume, com extremo desdém. Enquanto a moça não aparecia, começou a analisá-lo e com visível desprezo apontava nele, o que enxergava como desleixo: “O senhor está com a roupa toda amarrotada!... e os sapatos... todos sujos, mais parece um cafajeste!...” Com toda certeza, a “sogra” não sabia o significado da palavra cafajeste, pois, se soubesse, certamente não a teria usado, pelo menos naquela ocasião e com a intenção desejada. Na mesma noite o nosso personagem ressentido com o tratamento da sogra, acabou o namoro. No caminho de volta para casa teve a ideia de fundar um bloco carnavalesco, batizando-o com o adjetivo pelo qual foi injustamente classificado.

Convidou alguns amigos e no ano seguinte desfilava pelas ruas de Natal um dos mais conhecidos e animados blocos carnavalescos daquela época: OS KARFAJESTES.
                                    Ibrahim Sued
A denominação “KAR” foi uma gíria criada por Ibrahim Sued (1924/1995), considerado o pai do colunismo social no Brasil, para denominar pessoa elegante, chique. O oposto de "Shangay", usada para qualificar algo cafona, de mau gosto.
                                                     
Talvez, em virtude do “trauma” sofrido com esse namoro, nosso personagem tenha se desvencilhado tantas vezes do laço “matrimonial”, prometendo que só se casaria quando a nova Catedral estivesse totalmente concluída. Promessa feita e cumprida. Apenas, com um pequeno detalhe: o casamento demorou um pouco mais do inicialmente previsto, só acontecendo após a segunda reforma da referida Catedral.