sexta-feira, 11 de novembro de 2011

DO LIVRO "A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS"

OS MACEIÓS




















A praia da Pipa desde os seus primórdios convive com um fenômeno natural geográfico que os nativos denominaram de “maceió”. Esse fenômeno é o resultado de correntes marinhas que ao passarem próximas as nossas costas, provocam a migração de grandes bancos de areia localizados ao largo. Esse fato pode ser observado em grande parte do nosso litoral. No caso específico da praia da Pipa, o movimento de areia ocorre com maior intensidade desde a praia do Moleque até a praia do Madeiro. Porém os “maceiós” só ocorrem na praia do Centro. Em determinadas épocas do ano, o movimento dessas correntes retira e repõe grandes quantidades de areias, principalmente nas praias dos Afogados, do Centro e praia do Porto, onde causam maior impacto visual.





A PEDRA DO SANTO EM ÉPOCAS DE ATERRO




















A pedra do Santo, por exemplo, em determinadas épocas do ano, pode se encontrar totalmente aterrada, e a imagem de S. Sebastião, fixada em cima de um pedestal com quase 3 metros de altura, fica ao alcance das mãos de quem passa pelo local. Quando acontecem as marés de cavação, a mesma imagem do Santo pode se encontrar a vários metros da água, modificando extraordinariamente a paisagem. É tanto que algumas pessoas que tiveram a oportunidade de conhecerem o local em determinada época do ano, terem dificuldade para identificar o mesmo local, quando lá retornam em situação inversa.









A PEDRA DO SANTO EM ÉPOCAS DE CAVAÇÃO













Essa grande movimentação de terras já provocou destruição de casas situadas na praia do Centro, por não terem sido devidamente protegidas, como também nas antigas árvores frutíferas, que adornavam toda a orla marítima, principalmente na praia do Centro.
Árvores muito antigas como fruta pão, mangueiras bacuri e espada, e principalmente os centenários coqueiros, foram os que mais sofreram com esses fenômenos. Geralmente nos meses de junho a setembro ocorre a retirada das areias, que os nativos chamam de “marés de cavação”.

A partir do mês de outubro/novembro essas areias, aos poucos e de acordo com o movimento das marés, começam a retornar às praias, aterrando o que havia escavado. Justamente nessas ocasiões é que, de vez em quando, são formados os “maceiós”. Essas formações geológicas ocorrem quando o retorno das areias acontece com maior velocidade, não dando tempo de haver a dissipação uniforme por toda a praia. O acúmulo se faz a partir da ponta do morro principal (morro de Castelo ou Morro da Pipa) onde se inicia a enseada da praia do Centro, visto que as correntes ocorrem no sentido Sul/Norte.

O primeiro registro fotográfico que tenho de um “maceió” na praia da Pipa é da década de 60. Nessa época, esses fenômenos eram bem mais escassos. Tive oportunidade de presenciar no início dos anos 60, um “maceió” que causou espanto aos nativos e veranistas, pois permaneceu de um ano para o outro. Isso ficou gravado em minha mente porque naquela época os veraneios aconteciam, impreterivelmente, nos meses de janeiro e o retorno à praia, só ocorria no ano seguinte.










MACEIÓ NA DÉCADA DE 60









Atualmente os “maceiós” têm ocorrido com mais freqüência. Isso deve-se, possivelmente, as modificações que a natureza vem sofrendo pela ações predatórias e irresponsável dos homens.
Como as casas que ficam a beira-mar, são constantemente assoladas pelas vagas, principalmente nos meses de janeiro e fevereiro, tradicionalmente de marés mais fortes, seus proprietários, na tentativa de proteger suas moradas contra a força das ondas, retiraram do mar grandes quantidades de pedras e as puseram em frente às casas, construindo assim uma espécie de quebra-mar.
Ocorreu que a retirada desse material, apesar de ter beneficiado os banhistas no que se refere a “limpeza” do local de banho, facilitou a chegada das ondas à praia, que sem empecilho, aumentou sobremaneira, a velocidade com que as areias eram depositadas. Quando isso acontece cria-se uma faixa de areia mais alta próxima a linha d’água, que durante a preamar é transposta pelas ondas. As águas sem possibilidade de retornares ficam aprisionadas do outro lado e aos poucos vão formando um grande lagoa que os nativos denominaram de “maceió”.

Essas formações, a princípio, constituem um cenário de rara beleza, onde o mar fica separado dessa lagoa por uma estreita faixa de terra. Enquanto as marés altas estão transpondo essa faixa de terra e irrigando com água nova o “maceió”, as águas permanecem limpas e oxigenadas.Porém, quando ocorrem as “marés mortas”, e as ondas não conseguem vencer a faixa de areia, as águas que se encontram aprisionadas, por falta de oxigenação tornam-se escuras e fétidas.



















A situação tende a piorar se nesse período ocorrerem chuvas, pois a mistura com a água doce que desce das ruas mais altas arrastando grande quantidade de detritos acelera o processo de insalubridade. Isso torna a lagoa um ambiente propício para o desenvolvimento de determinadas algas que para continuarem crescendo, retiram desse ambiente grandes quantidades de oxigênio, o que consequentemente acelera sua putrefação.
Quando isso ocorre, necessário se faz a utilização de máquinas para a abertura de canais unindo o “maceió” ao mar, para que nas marés baixas seja realizado o escoamento das águas estagnadas e nas marés alta sua renovação. Às vezes, essas máquinas são utilizadas também para o aterro dos “maceíos”, pois quando secam deixam uma lâmina de lodo que se não coberto de imediato, exalam forte odor, além de propiciar o aparecimento de moscas e pernilongos.















Porém, se essas providências não forem tomadas, messes depois, a natureza, como sempre, se encarrega de repor tudo nos seus devidos lugares e a praia da Pipa volta a ser o que é de sua natureza: encher os olhos com estonteante beleza aos que tem o privilégio de visitá-la, com a benção de seu padroeiro São Sebastião.
Pipa, setembro de 2011.