sexta-feira, 6 de agosto de 2010

ARTIGOS GENEALÓGICOS

MATÉRIA PUBLICANA EM "O JORNAL DE HOJE", EDIÇÃO DE 06.08.2010

AINDA SOBRE A FAMÍLIA SIMONETTI

Foram muitas as surpresas que tive durante o tempo que durou a pesquisa genealógica que resultou no livro “Genealogia dos Troncos Familiares de Goianinha-RN”, lançado em agosto de 2008. Uma delas, e talvez a que mais me emocionou, foi a descoberta de uma parte de minha família, pelo lado SIMONETTI, que residia em Santos/SP. Para eles a emoção foi ainda maior, pois imaginavam ser apenas um pequeno grupo familiar com raízes no distante nordeste do país.

Pois bem, certo dia chegou à caixa de e-mail de minha prima, Daniela Simonetti, uma mensagem de um internauta de nome Daniel Simonetti Campos, que residia naquela ocasião em Curitiba, solicitando informação sobre a família, pois soube através de seus pais que suas raízes tinham origem no Rio Grande do Norte.

Sabendo da pesquisa genealógica que eu desenvolvia em busca dos meus ancestrais, Daniela me encaminhou o e-mail. Imediatamente enviei uma mensagem para o possível primo, solicitando que me informasse algum fato ou história que pudesse ligar nossas famílias, já que no Estado de São Paulo existiam várias pessoas como o nosso sobrenome, mas sem ligação direta conosco. Muitos indivíduos como o sobrenome Simonetti haviam imigrado para o nosso país, procedentes da Itália, fugindo das duas grandes guerras, a primeira ocorrida entre 1914 e 1918 e a segunda entre 1939 e 1945 e também durante o pós-guerra. No nosso caso, o desembarque do primeiro Simonetti no Brasil, ocorreu por volta do ano de 1820, portanto, muito antes desses dois catastróficos eventos que envergonharam e ainda envergonham a humanidade.

Então ele me relatou que a sua avó, que se chamava Maria Simonetti, nascida em 1905, dizia ser filha de Benjamim Constant Simonetti (1885/1962) com Maria dos Anjos (1887/1927). Contou sua avó que durante a adolescência, quando morava em Natal, encontrava-se como seu pai, sem conhecimento da sua atual família, nesse tempo já casado com Emília Simonetti (minha avó), na estação ferroviária da Ribeira. Certo dia, em um desses encontros, Maria conversava com seu pai, quando um jovem passou no outro lado da rua sem os ver. Foi então que vovô disse a sua filha: “Aquele rapaz ali é meu filho. O nome dele é Arnaldo e estuda Direito em Recife. Se Deus quiser, quando ele se formar vai regularizar sua situação!”

Daniel relata ainda que anos após esse encontro, ela foi morar na casa do professor Clementino Câmara. Era uma espécie de governanta e gozava de toda a confiança e apreço do velho professor. Por ser uma família protestante, logo a jovem Maria Simonetti se tornou fiel discípula dos preceitos e doutrinas da nova religião.
Certa vez, o professor Clementino foi convidado para um congresso religioso que se realizaria na cidade de São Paulo. Impossibilitado de comparecer ao evento, enviou como sua representante Maria Simonetti, que na ocasião já gozava de boa formação religiosa e estava habilitada a bem representar o professor naquele congresso. Viajou a São Paulo e nunca mais retornou ao seu Estado. Em 15 de fevereiro de 1941, casou-se com Antônio Sebastião Pereira e tiveram três filhos: Azenati, nascida em 1941; Ezequiel, nascido em 1943 e Ezequias, em 1944.

Depois de ler várias vezes aquele impressionante relato, não tive mais dúvidas de que estava diante de um “elo perdido” de minha família. É esse tipo de emoção, o prêmio pelas noites solitárias e indormidas, dos que labutam na pesquisa genealógica.
Muito emocionado e sem nenhuma dúvida de que aquela era minha família, retornei a mensagem informando que o “Arnaldo” a que ele se referia, era o meu pai e que havia falecido em 1972, na cidade de São Paulo, após ter se submetido a uma cirurgia cardíaca. Informei que ele havia nascido em 1910, isto é, cinco anos após Maria Simonetti, sua irmã por parte de pai.

A princípio os e-mails frios e desconfiados, logo se transformaram em longos e emocionados telefonemas, até que, para minha surpresa, naquele mesmo ano recebemos a visita de um neto de Maria Simonetti, filho de Ezequiel, Luiz Fernando Simonetti Pereira e sua jovem esposa Daniela Bruschetta Simonetti, por coincidência, filha de italianos. Aqui chegaram com os olhos e a emoção dos antigos navegantes, que após meses enxergando apenas céu e mar, avistavam as primeiras árvores de uma terra distante e desconhecida.

Em agosto, chegaram a Natal seus pais e tios. Vieram para o lançamento do meu livro e por aqui ficaram uma semana. Foram dias inesquecíveis para todos nós. Conheceram Goianinha, cidade onde tudo começou e também Tibau do Sul, aonde Giovanni Baptista Simonetti chegou náufrago entre 1822 e 1824. Conheceram também a praia da Pipa e ficaram maravilhados com suas águas cálidas e transparentes, bem diferente das praias de Santos onde moram. Conheceram as antigas histórias da praia da Pipa e suas belezas naturais desenhadas pelas falésias e os recifes de coral que ponteiam toda aquela costa.

Aquela família que se imaginava tão pequena, de repente, descobriu extasiados, que não estão sozinhos como imaginavam. Muito pelo contrário, conheceram em um só dia, centenas de parentes que como eles, também aproveitavam aquele evento para se descobrirem e se reconhecerem como família. Comparecera naquela noite chuvosa do dia 8 de agosto de 2008, ao Boulevard Recepções, mais de 600 pessoas, na sua imensa maioria interligadas geneticamente. Como aquela família, muitas foram as que se descobriram e se conheceram naquela ocasião.

Com esse encontro muitas dúvidas foram esclarecidas. Questionada porque em todos esses anos não havia procurado a família no Rio Grande do Norte, Azenati informou que sua mãe pensava não existir mais ninguém da sua origem por esses lados. No final da década de 30, teve noticias, possivelmente através da família do professor Clementino, que o pai havia falecido em 1936. Naquela época, a precariedade dos meios de comunicação ajudaram a confundir e distorcer a notícia enviada. Na realidade, quem faleceu nessa data foi o filho de Benjamin, e seu irmão por parte de pai, Ormuz Barbalho Simonetti, do qual em sua homenagem, me puseram o mesmo nome. Vovô faleceu 26 anos depois, em 1962.

Em 2009 tivemos novamente o prazer da visita desses queridos parentes, que sempre nos proporciona muita alegria. Nesse ano estamos aguardando com ansiedade a chegada, lá em São Paulo capital, de mais um membro da família. Dessa vez apurando o sangue carcamano, nascerá ainda esse ano o varão, Enrico Bruschetta Simonetti. Que venha com muita saúde para o regozijo de todo o clã.

Natal, agosto/2010.