domingo, 31 de janeiro de 2010

A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS

Caros amigos e leitores. Mais uma crônica sobre a Praia da Pipa e seus personagens.

Publicada em O JORNAL DE HOJE edição de 20.01.2010.

ORMUZ BARBALHO SIMONETTI (Presidente do Instituto Norte-Riograndense de Genealogia-INRG, membro da UBE-RN e do IHGRN)

PIPA, SAUDOSOS VERANISTAS - João Benjamin Simonetti - Joquinha

Algumas pessoas que viveram parte de suas vidas na Pipa deixaram registrados, para sempre, na memória oral da comunidade, fatos e situações vividas no dia-a-dia daquela praia tranqüila e preguiçosa do tempo dos meus avós. Uma dessas pessoas foi o meu tio-avô João Batista Simonetti, conhecido por gregos e troianos apenas por Joquinha.

Solteirão por opção e dizem que também, por decepção. Levava suas decisões até as últimas conseqüências. Quando moço, namorou com sua prima, e também minha tia-avó pelo lado materno, Beatriz Barbalho. Era a versão Goianinhense do clássico “A Bela e a Fera”. Conheci tio Joquinha, já com bastante idade. Era baixinho, feioso, caderudo, e de gênio terrível. Contrastando com ele, a beleza de tia Betariz chamava a atenção. Era tida e havida, por quantos a conheceu quando jovem, como a mais bela moça de toda aquela redondeza. O fato é que o namoro não deu certo, e opinioso como ele era, decidiu que não casaria com mais ninguém.

Em 1926 os Barbalho/Simonetti de Goianinha iniciavam o veraneio na praia da Pipa em virtude da destruição da antiga cidade de Tibau do Sul durante a cheia de 1924. Tio Joquinha por ter sido um dos primeiros veranistas, logo fez amizade com os nativos. Quando vinha pra Pipa se hospedava na casa de Sinha Vicência onde passava dias e até meses. Com a compra da casa de Maria Fidelis pelos seus sorinhos, os irmãos Nancy e Danilo Simonetti, ficou praticamente morando o ano inteiro nessa casa. Aproveitou esse tempo e adquiriu dois barcos de pesca. Comprou inicialmente o barco de nome Lima Freire e em seguida o Sucuri. Tempos depois vendeu o Sucuri e comprou o Veleiro.

Além dessa atividade, era louco por caçada. Na época, as matas da Pipa eram fartas de cutias, coelhos, jacús e até mesmo os ariscos veados campeiros. Por ser gordo e baixinho não tinha resistência para andar a pé e as caçadas eram realizadas sempre no lombo de uma mula, dizia orgulhoso, que por ele treinada para não se assustar quando do estampido de sua espingarda. Outros já afirmavam que era totalmente surda, não se sabendo se durante o “treinamento”, ou mesmo pela idade.

Nessas aventuras sempre tinha a companhia de seu primo Celso Lisboa, também um apreciador das caçadas, além de contar com a indispensável ajuda de nativos, especializados em rastreamento. Fazia também parte dessa comitiva alguns vira-latas, exímios caçadores, até mesmo pela necessidade de sobrevivência. Um dos melhores rastreadores daquelas bandas era José Bidium. Conheci-o pessoalmente e tive oportunidade de acompanhá-lo juntamente com Hilton Lisboa e Edinaldo Simonetti em uma caçada nos anos 70. O lendário Bidium além de pescador e agricultor, era conhecido por rastrear coelhos e cutias até mesmo em cima de folhas secas. Dizia que os melhores dias para aplicar sua técnica, eram quando dava uma chuvinha ligeira durante a madrugada. Isso facilitava o rastreamento dos animais, pois quando saíam de suas tocas, deixavam sobre as folhas secas, marcas de suas patas carimbadas com areias ainda úmidas. Quando não chovia, dava um jeito de aproveitava a umidade deixada pelo orvalho da madrugada.

Tio Joquinha, pelas suas condições físicas e principalmente com relação a sua estatura, evitava, a todo custo, durante uma caçada, descer do animal o que normalmente só acontecia quando retornava pra casa. Porém, se acontecesse alguma dificuldade intestinal, que o obrigasse a “ir para a terra”, a coisa ficava complicada. Dentro daquelas picadas estreitas onde se escondiam as melhores caças, não havia a ajuda da calçada altas da igreja ou dos alpendres que lhe ajudava a subir e descer, sem dificuldades, ao lombo da montaria. Mas se a tal necessidade acontecesse, depois de satisfeita, iniciava-se uma verdadeira operação de guerra para que aquela criatura, baixinha e desajeitada, retornasse sã e salva, ao lombo do animal.

Durante o tempo que viveu na Pipa, fez diversas amizades. Muito respeitado entre os nativos, foi compadre de vários deles, tendo apadrinhado um sem número de nativos. Orgulhava-se em dizer não ter idéia do número exato de afilhados. Todo mês de janeiro, durante a missa em homenagem ao padroeiro, lá estava ele a batizar outra leva de afilhados. Foi ele, que com poucos recursos e contando com a ajuda da mão de obra nativa, deu inicio a abertura da estrada que liga o distrito de Piau a Pipa. Sob seu comando muitos homens trabalharam no roço e destocamento do mato e na colocação de piçarro nos lugares onde a areia era mais frouxa e dificultava a passagem dos carros.

Contam os mais velhos, que em Goianinha, gostava de criar pássaros engaiolados. Certa vez, um desavisado gado de rua, resolveu transformar em refeição, um belo canário da terra, que era seu favorito. Depois de quebrar os ponteiros da gaiola feita com a resistente “barba de bode”, o felino comeu o canário, xodó do velho Joquinha. O pássaro, além de excelente cantador, também era um brigador feroz, quando disputava uma fêmea nas rinhas improvisadas à sombra dos “fícus benjamin”, que ornamentavam as ruas de Goianinha dos anos 50 e 60, ou da velha mangubeiras ao lado da igreja.
Inconformado com a perda do seu canário resolveu se vingar. Preparou uma arapuca para o felino que retornou no dia seguinte, na esperança de conseguir mais uma fácil refeição. Depois de aprisionado, o genioso Joquinha pegou o pobre animal pela cabeça e sem nenhuma piedade, ralou nas pedras da calçada, o focinho do infeliz, enquanto repetia... Nunca mais você vai comer passarinho de ninguém! Em seguida, soltou o pobre animal que nunca mais apareceu nas redondezas.

Fazia questão de exaltar sua condição de ateu mas nunca recusou o apadrinhamento de um pagão. Em 1969, encontrava-se hospedado, no Hospital da Polícia, tratando de um câncer de intestino. Certo dia foi avisado que já se encontrava naquele hospital, o então governador do Estado Monsenhor Walfredo Gurgel, muito seu amigo, que sabendo de sua enfermidade, tinha vindo lhe fazer uma visita. Nesse dia ele estava passando por uma crise terrível com dores insuportáveis. Mesmo assim, não teve dúvidas quando sua sobrinha Zilda Simonetti aparece na porta do quarto muito nervosa e com olhos muito arregalados lhe informa: tio Joquinha, o Governador veio lhe visitar! . . . E ele, em baixo de todo aquele sofrimento sentencia: diga a ele que se vier como amigo ou político, permito a visita. Mas, se vier como PADRE, dê meia volta e vá embora.

Assim era tio Joquinha, não mudou de opinião nem na hora da morte. Expressou sua última vontade com o seguinte pedido: nasci só e passei toda minha vida só. Portanto não quero companhia depois de morto. Quando eu morrer, mande lacrar meu tumulo para que nele, ninguém mais seja enterrado. E seu desejo foi cumprido à risca.

Pipa, janeiro de 2010.

sábado, 23 de janeiro de 2010

ACTAS DIURNAS

Oi Ormuz gosto imensamente de receber as famosas actas, lia e relia constantemente lá na casa de minha avo, o "livro das velhas figuras" de Cascudo, creio ser bastante parecido. Será que as atas são compilações do referido livro? Pergunto, pois parou-me a duvida. Finalmente, mas não menos importante gostaria de saber se existe alguma ligação entre o Fagundes de Bartolomeu Fagundes e o Cabral Fagundes de Goianinha? Haja vista que Vila Flor faz divisa com Goianinha, sendo sua distancia deveras pequena. Desde já agradeço a gentileza do envio dos e-mails,como também, gostaria de obter as respostas das possíveis elucidações!
Abraço.

Gustavo Gadelha
Natal-RN

ACTAS DIURNAS

Só assim nós tomamos conhecimento de vários fatos históricos da nossa terra e do nosso povo.

Carlos Cabral
Natal RN

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

ACTAS DIURNAS

Caros amigos: Os leitores que por ventura estejam interessados em receber, via e-mail, semanalmente, as ACTAS DIURNAS escritas pelo mestre Câmara Cascudo e publicadas entre as décadas de 30 e início dos anos 60, enviar correspondência para www.ormuzsimonetti@yahoo.com.br. Estas pulicações foram reunidas em 10 volumes intitulados "Livro das Velhas Figuras" e estão a disposição para consulta no Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte-IHGRN.
Abraço a todos
Ormuz B. Simonetti

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS

Ormuz, que história maravilhosa!
Só senti falta de fotos, das imagens e do pedestal.
Mas adorei essa história!

Clotilde Tavares
Natal-RN

A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS

muito bonita a história de fé e perseverança na fixação da imagem do padroeiro de Pipa. Gostei de conhecer.

Fátima Farias

A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS

Meu caro primo, Ormuz
Parabenizo pelo texto...entusiasmo...sensibilidade, e, pelo compromisso que nasce no teu interior, de poder contar e cantar a "PRAIA DA PIPA, " as verdades de uma história, que nem mesmo o tempo não apaga.
meu abraço
Alfredo Fagundes
João Pessoa PB

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS

ORMUZ BARBALHO SIMONETTI (Presidente do Instituto Norte-Riograndense de Genealogia-INRG,membro do IHGRN e UBE-RN)www.ormuzsimonetti@yahoo.com.br

Publicada em “O JORNAL DE HOJE” edição do dia 15 de janeiro de 2010.

São Sebastião, o padroeiro da Pipa.

Ninguém sabe dizer em que década a comunidade adotou São Sebastião como seu padroeiro. Na época que existia a primeira igreja, ou igreja velha, localizada aonde é hoje a casa de tio Venício, tinha na frente um frondoso pé de fruta pão onde se realizava a festa do padroeiro. Essa data era comemorada no dia 6 de janeiro, dia de Reis. Por falta de manutenção, com o tempo a igreja velha caiu e a Pipa ficou alguns anos sem igreja. Os santos foram transferidos pra casa de Vicência Torres, mais conhecida por Totores, aonde se chegou a rezar missas e realizar batizados. Por volta do ano de 1952 teve início a construção da igreja nova, concluída três anos depois. A demora deveu-se aos parcos recursos daquela comunidade pobre, porém de pessoas determinadas.

As pedras utilizadas nos alicerces foram trazidas da distante praia das Cancelas, localizada ao Sul da Pipa. As pessoas se organizavam em mutirões noturnos e aproveitando as noites de lua clara, seguiam em grandes romarias para realizar a penosa tarefa. Para aliviar a caminhada, as mulheres entoavam hinos em louvou ao santo padroeiro. As mães e seus filhos menores traziam em suas mãos as pedras de menor tamanho; enquanto que os homens, utilizando rodilhas de pano, conduziam em seus ombros e cabeças, as de tamanho maior e conseqüentemente mais pesadas. Os tijolos, comprados em Goianinha, como não existia estrada, foram trazidos aos poucos, em lombo de animais acomodados em caixões ou caçuás. O dinheiro para o pagamento dos pedreiros e para adquirir outros materiais necessários, era conseguido, as duras penas, de porta em porta, com doações feitas pelos moradores. Aqueles mais afortunados doavam mais, enquanto os que pouco possuíam colaboravam com a força de seus braços, contanto que de alguma forma, contribuíssem para a construção do templo sagrado.

O local escolhido foi um sítio de coqueiros, dizem que foram plantados décadas atrás pelo Velho Castelo. Para a edificação do templo, quase todos os coqueiros tiveram que ser derrubados. Três anos após o início da construção e de muito sacrifício comunitário, a nova igreja finalmente foi inaugurada no dia 20 de janeiro de 1955, com missa rezada pelo padre Severino Bezerra, então pároco de Goianinha. A partir desse dia, a comunidade passou a comemorar todo dia 20 de janeiro, o dia do Santo Padroeiro com as festividades em sua homenagem.

Na atual igreja, ainda existe a primeira imagem de São Sebastião, não medindo mais que 15 cm, que era venerada pelos fiéis, desde o tempo da igreja velha, na época construída de taipa e coberta com palhas de coqueiro. Durante as procissões, como não havia andor, a imagem era conduzida nas mãos ou nos ombros dos fiéis. Por ser muito pequena, foi essa a maneira encontrada para que, durante o percurso da procissão, todos pudessem apreciá-la.

Em 1952, o poeta Antonio Pequeno pediu, em nome dos nativos, a Aguinaldo Simonetti, que fizesse doação de uma imagem do padroeiro em tamanho maior, que seria melhor apreciada, tanto no seu nicho, como por ocasião das procissões. Cumprindo o prometido, no ano seguinte, chega a cidade de Goianinha vinda diretamente do Rio de Janeiro, uma imagem do santo feita em bronze, com média de 50 cm de altura, e pesando uns 25 kg. No dia que chegou a Goianinha trazida pelo próprio Aguinaldo, por coincidência, Antonio Pequeno se encontrava em Goianinha, pois era dia de feira. Muito emocionado e agradecido pelo presente, ele enviou mais que depressa um portador à Pipa, para comunicar a boa nova e preparar a comunidade para a chegada da imagem, prometido para a boquinha da noite.

O próprio Antonio Pequeno se encarregou do traslado da imagem para a praia da Pipa. Chegando no horário previsto, a comunidade recebeu a nova imagem com festa e admiração, principalmente pela sua imponência e riqueza de detalhes. Por ter sido confeccionada em bronze, material desconhecido pela população, por ser amarela, alguns achavam que era feita de ouro.
Naquele mesmo ano, no dia 19 de janeiro, a imagem seguiu em procissão, carregada nos ombros dos fiéis, como era tradição, que ostentavam orgulhosos aquele presente vindo de terras distantes. Cada homem a conduzia por um determinado tempo devido ao seu peso, mas também pelo orgulho e a oportunidade de tal honraria. Após algumas procissões a comunidade solicitou ao mesmo doador que lhes trouxesse uma imagem menor pesada, de maneira que os fiéis pudessem, sem grandes sacrifícios, conduzi-la da forma tradicional, ou seja, nos ombros durante todo o percurso. Novamente atendida em seu pleito, a comunidade foi contemplada com uma nova imagem feita de gesso.

Depois de algumas reuniões, os fiéis resolveram colocar a imagem de bronze em um pedestal construído a mando do próprio Aguinaldo, em cima de uma pedra, na beira-mar, próximo ao porto dos barcos. Desde então ficou conhecido como São Sebastião da Pedra.
Os primeiros pedestais foram feito com pedras de recifes do coral, abundantes no local. Com o tempo e a força das ondas que neles batiam, durante as marés de enchente, terminavam por derrubá-los depois algum tempo.

Ao longo de todos esses anos, outros pedestais foram construídos e tiveram o mesmo destino. Quando acontecem às marés de cavação, ainda podemos ver pedaços de alguns deles, em volta da pedra principal. O último, construído de maneira tradicional, foi erguido em 1980 por Telis Simonetti, em pagamento a uma promessa. Resistiu mais tempo ao impacto das ondas por ter utilizado em sua construção a técnica do concreto armado. Mesmo assim, em abril de 2003, durante uma violenta maré esse pedestal também sucumbiu às forças da natureza. Desta vez, com maior gravidade, pois com sua queda a imagem presa a ele foi bastante danificada.

Surgia nessa ocasião à oportunidade que eu esperava para, a exemplo do meu sobrinho, também pagar uma promessa que havia feito em 2001. Prometi erguer naquele local um pedestal que não mais fosse derrubado pelas ondas, e a partir daquela data, seria minha a responsabilidade da manutenção daquele monumento. E assim foi feito.
No dia 16 de junho de 2003, chega à Pipa, depois de passar por uma minuciosa restauração em Natal, a imagem do santo padroeiro. A torre, feita em aço inox e imitando uma bóia náutica para que não oferecesse resistência às grades marés, já estava bem fixada na pedra aguardando à hora de receber a imagem. A mesma chegou à Pipa, em uma manhã ensolarada, trazida por mim e minha família em uma alegre carreata desde a cidade de Natal.
A primeira parada foi na casa de Joaninha de Zé de Hemetério, onde uma multidão se “acotovelavam” desde cedo curiosa para ver o resultado da restauração e ansiosa para aclamar o seu padroeiro. E não foram decepcionados. Entre cantos de louvor e ladainhas, o Padroeiro foi conduzido em procissão, pelas principais ruas da praia até a igreja onde o monsenhor Armando, pároco de Goianinha, abençôo a imagem em missa bastante concorrida.

À tardinha, com a maré baixa, seguiu em procissão até a pedra, onde foi novamente entronizado, olhando para o nascente e abençoa toda a nossa comunidade e seus visitantes.

Pipa, 10 de janeiro de 2010.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS

Caro Ormuz, Saudações!


Nos meus raros momentos de folga sempre procuro, via internet, notícias da nossa família, o que, na verdade, são muitos restritos. Te confesso que só agora descobri o teu blog. Lembro-me que minha filha mais jovem havia me comentado, uma certa época, que tinha tido contato contigo, acredito que tenha sido quando estavas encerrando o teu livro. Mas, caro Ormuz, que maravilha as tuas crônicas sobre bons momentos vividos na saudosa história da “Praia da Pipa dos Meus Avós”. Mesmo vindo de uma família muito humilde, sem possuir casa de veraneio na praia da Pipa, pude viver muitas das histórias que contas nas tuas crônicas.

Órfão de pai desde os meus três meses de idade, nasci e vivi durante 25 anos na minha querida Goianinha. De vez em quando imagens se formam na minha mente me fazendo recordar bons momentos vividos na minha terrinha. Recordo-me que ainda criança, aos domingos quando vinha para a igreja com minha mãe, ao virar a esquina da mercearia do saudoso Raimundo de Morais, já visualizava a rua principal de Goianinha, com toda a família Barbalho, Grilo e Simonetti, sentados em cadeiras colocadas na calçada das suas casas.

Lembro-me muito bem que minha mãe me obrigava a cumprimentar um por um, parecia até uma “via-sacra”. Iniciava na casa da saudosa Maria Braga, Silvério..., terminando nas casas de Tio Aristides e Luis Carvalho. Hoje ao retornar a minha terra sinto um aperto no peito ao visualizar a triste mudança que o tempo e o progresso me proporcionou. A “velha guarda” destas famílias já não mais estão entre nós; a tímida Goianinha parece que quer ser cidade grande; a comunhão que havia entre as famílias está comprometida; nossos filhos estão se tornando adultos precocemente; enfim, hoje só restam lembranças de bons momentos vividos e muitas saudades desses nossos parentes que já partiram. Mas, felizmente ainda existe pessoas como você que, com muita propriedade, carinho e satisfação, através das suas crônicas, resgata a memória dessas pessoas que o tempo fatalmente iria apagar.

Ormuz, de coração te parabenizo e te louvo pela tua feliz iniciativa, pois tudo que escreves são histórias que também fomos protagonistas. Ah, e a Pipa? Você cita bem quando refere como a “A Praia da Pipa dos Meus Avós”. Descrever a Pipa dos velhos tempos só quem realmente esteve presente para testemunhar. Quando criança eu aguardava ansioso, nos finais do mês de dezembro, a chegada da saudosa Tia Jacira (Dadá) e da Marizinha, vindas de São Paulo diretamente para o veraneio na Pipa. Elas se juntavam aos Tios Alfredo e Valdira e se hospedavam na casa de Dante e Azelma. Algumas vezes eu ia junto. Inclusive foi o Dante que me presenteou com o meu anel de formatura.
Quando adulto jovem, em vista da minha grande amizade com Beto e Bartô, a casa que me abrigava era a casa de Evilásio e Dina, os quais sempre me trataram como uma pessoa de casa; lembro-me deles com saudades e gratidão.

Mas, a casa que mais estive presente durante os veraneios na Praia da Pipa foi a casa de Paulo e Júlia. Paulo foi aquele que sempre imortalizou a família Barbalho. Este querido e inesquecível primo/amigo fazia questão de me apresentar para todos que frequentasse a sua casa; ele praticamente “descrevia” toda a minha árvore genealógica. Quando visitava Goianinha a Fazenda Benfica era parada obrigatória. No período de veraneio da Pipa ele sempre enviava um veículo à casa da minha mãe para me buscar para “veranear” na Pipa. Enfim, caro Ormuz, tudo que você descreve nas suas escritas eu também tive a oportunidade de me deleitar. As serestas à beira-mar... A hospitalidade dos parentes... O banho no rio Galhardo... O caminhão do Rui. Tudo isto hoje ficou só na lembrança... Lembrança esta que ficou na história dessas famílias e que você sabiamente, com saudosismo e muita emoção descreve nas memórias da “PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS”.

Meus Parabéns
Gilson Carvalho Barbalho
Maringá - Pr

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

ACTAS DIURNAS

Caro Ormuz :

Sua iniciativa é das mais louváveis porque, se formos esperar que o IHGRGN publique todas as "Actas Diurnas" nos "Livros da Velhas Figuras", é provável que não cheguemos vivos para ver os últimos volumes. Aparentemente o problema do IHGRGN é falta de
dinheiro e também um pouco de falta de iniciativa.

Se Enélio distribuisse entre os sócios do IHGRGN e do Instituto de Genealogia, recém-formado, uma subscrição para lançar mais um volume do "Livro das Velhas Figuras", de modo que, quem pagar o
preço de um livro (uns 30 ou 40 reais) e mais o correio, no caso de sócios fora de Natal, receberia seu exemplar ( ou mais de um, se quisesse pagar mais) no dia do lançamento, e garantiria o dinheiro
para a publicação.

Pergunte ao nosso caríssimo Diógenes se pode haver direitos autorais sobre artigos de jornais escritos há mais de 50 anos ( isto significa até 1960 ), tanto para os jornais como para os descendentes de Cascudo. Creio que a resposta será negativa.

O IHGRGN tem a coleção dos jornais em que Cascudo escrevia suas atas. A primeira tarefa, simples, seria listar as Actas já publicadas nos
"Livros da Velhas Figuras". A segunda, mais trabalhosa, seria pesquisar em "A República" ou no "Diário de Natal" as Actas não publicadas e copiá-las.

Porque há mais interesse nas não publicadas do que nas que foram
republicadas.

Um abraço
Carlos Alberto Dantas Moura
Rio de Janeiro RJ

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

ACTAS DIURNAS

Pulicada na Coluna do jornalista Vicente Serejo em O JORNAL DE HOJE, edição de 04/12/2010.

“Prezado Vicente Serejo:

Gostaria de esclarecer informações que foram publicadas na sua coluna do último dia 31de dezembro de 2009, na nota intitulada ESTILO, sobre a "proibição de publicação das Actas Diurnas".
Creio tratar-se de um grande mal entendido. Em e-mail para Ormuz, esclareci os motivos pelos quais a postagem das Actas não poderia ser feita. Reproduze abaixo o texto do e-mail que enviei.


"Prezado Ormuz: .

Acabei de ver no seu blog a notícia de que, a partir de 2010, você estará publicando ao mesmo as ACTAS DIURNAS de autoria do meu avô.
Gostaria de informá-lo que esta publicação no blog NÃO pode ser possível, pelos seguintes motivos:
Já existe o BLOG DO CASCUDO, onde as mesmas Actas Diurnas são publicadas, semanalmente. Nos últimos tempos, passamos por problemas de atualização que estão sendo resolvidos.
Estamos abrindo o INSTITUTO CÂMARA CASCUDO e fazendo um site, onde todo este material será contemplado:
A obra do meu avô possui direitos autorais até o ano de 2057, e qualquer publicação só pode ser feita com autorização expressa dos detentores destes direitos autorais (minha mãe e meu tio).
Desta forma, espero contar com a sua colaboração no sentido do entendimento dos fatos acima expostos.
Qualquer dúvida estou às ordens.
Um grande abraço
Daliana Cascudo".

Portanto, nossa intenção nunca foi uma proibição pura e simples, mas apenas evitar a duplicidade de postagem das Actas Diurnas em mais de um site/blog.
Toda a Família Cascudo procura pautar seus atos pelos valores do nosso patrono e nunca iríamos proibir de forma autoritária uma publicação cascudiana.
Sempre que posso forneço, de forma gratuita, textos de autoria do meu avô para todos os pesquisadores e interessados pela sua obra. Nosso maior objetivo é a sua divulgação pelo Brasil inteiro. Este é o nosso ESTILO!!!
Um feliz 2010 para você e toda a sua família.
PS: Sentimos todos a sua falta na solenidade de abertura do Ludovícus - Instituto Câmara Cascudo, realizada no último dia 30 de dezembro, aniversario do nosso patrono.
Quando quiser nos visitar, será uma honra.

a)Daliana


Resposta

Prezada Daliana,

Já havia recebido de Ormuz Barbalho Simonetti, a íntegra de sua comunicação. Portanto, não houve "um grande mal entendido” por falta de conhecimento de sua carta. Como não desconheço a lei dos direitos autorais. A sua proibição - pode não ter sido sua intenção - está no próprio texto da comunicação que fez a Ormuz, quando afirma: "... esta publicação NÃO pode ser possível". Ora, é a palavra de quem representa um dos dois únicos detentores - legítimos dos direitos autorais da obra de Câmara Cascudo. Tanto que ele lamentou comunicar o cancelamento aos seus leitores, como no meu caso. Como se não bastasse a clareza do veto, sua comunicação reveste o caso de um declarado caráter legal e jurídico, como se fosse uma advertência, embora com a lhaneza que é um traço da sua tradição familiar: a obra do meu avô possui direitos autorais até 2057". Como a transcrição de Ormuz seria do elenco dos dez volumes do Livro das Velhas Figuras, nada impediria sua publicação pelo blog, visto que a família não cobra esses direitos ao Instituto Histórico e ao Sebo Vermelho, editor dos volumes mais recentes. Desde que essa possibilidade fosse considerada possível pela família. E não foi. Daí minha estranheza. A multiplicidade, na blogosfera, e até a atomização da informação, também é argumento que, a meu ver, não se sustenta. É uma conquista desses tempos em que os teóricos da Escola de Frankfurt já previam, ainda nas primeiras décadas do século quando anteviram a grande reprodutibilidade da obra de arte pelos meios de comunicação. Além disso, já estão no universo Web vários textos de Cascudo, e estudos consagrando sua obra que, embora escrita e imortalizada com papel e máquina de escrever, agora transcende o suporte físico. Acho maravilhoso. Mesmo superado nos meus quarenta anos de jornalismo, e como simples leitor de Cascudo, lamento a decisão por entender que fere o estilo que a família tanto defende e preserva.

Estou na Redinha, desde o dia 30. Com os netos. Por isso não fui a solenidade. Depois, jornalista caído de moda não faz falta. É mais uma generosidade sua. A qualquer dia peço tempo e marco uma visita ao Instituto. Para rever com os olhos de hoje o que ontem foi uma descoberta de repórter. Curioso e perguntador.
Com os mesmos votos,

a)Vicente Serejo.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

ACTAS DIURNAS - MANIFESTAÇÕES

Prezado Ormuz, lamento muito a impossibilidade da continuação da Acta Diurna de Câmara Cascudo.
Imprimi a primeira e era meu desejo, continuar. Com minha admiração,
j. hélio
Natal-RN

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS

Ormuz,


É uma pena que o tal do "desenvolvimento" traga com o seu crescimento a destruição das belas paisagens, das tradições culturais e até mesmo do
maravilhoso sossêgo que as coisas de antigamente propiciavam.
O capitalismo mal conduzido é destruidor, é criador de outras formas de ver a vida, distorcendo valores e, muitas vezes, querendo valorizar o vazio. Mas,
precisamos nos acostumar e conviver com o atual, construindo nossas crenças e tentando salvar aquilo que ainda é possível.

Carlos Cabral
Natal-RN

domingo, 3 de janeiro de 2010

A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS

Querido amigo, gostei muito desta crônica. Precisamos de pessoas como você, capaz de dizer a verdade sem importar em agradar pessoas, empresas ou instituições.

Socorro Cabral
Natal-RN

A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS

ORMUZ BARBALHO SIMONETTI (Presidente do Instituto Norte-Riograndense de Genealogia-INRG e membro do IHGRN) www.ormuzsimonetti@yahoo.com.br

PUBLICADA EM “O JORNAL DE HOJE” EDIÇÃO DE 02.01.2010


PIPA, PORQUE ESCREVO ESSAS CRÔNICAS

Tenho sido constantemente questionado a respeito das crônicas que escrevo sobre a Praia da Pipa. A pergunta mais freqüente é “por que?”. Outros perguntam se essas crônicas vão retratar a Pipa até os dias de hoje. A Pipa dos belos hotéis e pousadas, cosmopolita, apinhada de turistas de todas as partes do mundo, dos restaurantes de diversas nacionalidades com suas cozinhas típicas, de uma vida noturna em constante ebulição que só começa após as 22 horas e termina com os primeiros raios do sol.

A Pipa que tenho tentado retratar através das crônicas já publicadas e as que ainda serão refere-se principalmente à Pipa de antigamente. Essas crônicas não irão além dos anos 90, mesmo porque o meu propósito é fazer um registro da época em que a praia era somente uma colônia de pescadores onde algumas poucas famílias de Goianinha, passavam férias nos meses de janeiro. É da praia daquela época que costumo me referir como “à Pipa do tempo da delicadeza”.

Iniciei essas crônicas quase como um desafio, pois minha área preferida é a genealogia. Nunca havia me imaginado como escritor de crônicas. Certa vez, em conversa com o meu amigo, o escritor Valério Mesquita, sobre a praia da Pipa, lhe falava da minha preocupação quanto às matérias que, volta e meia, eram abordadas na imprensa escrita e televisiva. Sempre aparecia alguém falando bobagens ou relatando invencionices. Esses depoimentos geralmente eram dados por pessoas sem nenhum conhecimento da história e tradições do lugar. Indivíduos que, pelo simples fato de morar ou terem morado na Pipa, na maioria das vezes por um curto período, já se arvorava a ser um grande conhecedor da terra, da sua gente e de seus costumes.

Chegou-se ao ponto de modificar os nomes primitivos de algumas praias. Outras, por não serem muito freqüentadas pelos “turistas”, tiveram seus nomes totalmente esquecidos, e pasmem, até mesmo pela população nativa.

O “Morro dos amores” de belas tradições e histórias registradas na memória oral dos veranistas e nativos, transformou-se mais que de repente, em “Praia do amor”. A história dessa praia é além de bonita, um tanto pitoresca. Recebeu esse nome porque na década de 40 e 50, nossos ancestrais se aventuravam naqueles morros para desfrutar, junto com suas amadas, da tranqüilidade e da rara beleza daquele lugar. Declarações e juras apaixonadas ali foram trocadas por nossos pais e avós nos momento mais sublime de suas vidas. Dizem até que, alguns de nós, fomos gerados naquelas areias encantadas.
Hoje esses morros já não são mais os guardiões de segredos e estórias dos amantes e futuros amantes.

A poesia deu lugar à especulação e ao afã de alguns pelo lucro a qualquer custo. Degradados e agredidos das mais diversas formas, estão repletos de toscos barracos. Suas areias e falésias invadidas por bares de toda espécie, sem nenhum critério de ocupação, e alguns por mais absurdo que seja, foram construídos escavando as paredes das falésias. A pouca vegetação existente, vem sendo sistematicamente cortada para dar espaço a mais uma construção, das muitas que se multiplicam a uma velocidade impressionante, sem nenhum tipo de fiscalização.

A praia “Curral do Canto”, sempre foi cultuada pelos nativos e veranistas por sua beleza singular. A enseada rodeada por gigantescas falésias de cor avermelhada constitui visão maravilhosa ao tempo que transmite uma agradável sensação de paz interior, somente sentida por aqueles que por lá, já estiveram. Esse nome, que teve origem nos antigos currais de peixes que existiram até a década de 90, infelizmente foi transformado em “Baia dos Golfinhos”, menos tradicional e mais comercial.

Outras praias como Ponta do Pirambú, Cacimbinha, Madeirinho, Madeiro, Baixinha, Porto de baixo, Afogados, Cancelas, Pedra d’água e praia das Minas, não se falam mais, foram totalmente esquecidas por não estarem inseridas no roteiro turístico. Felizmente seus nomes ainda continuam preservados, porém esquecidos. Até quando? É verdade que na Praia do Curral do Canto a sua maior atração turística são os cetáceos peixes-boto, também conhecidos por toninhas ou golfinhos, que se exibem quando em perseguição às tainhas, que constituem seu principal alimento. Entretanto, não era necessário que se mudasse o tradicional nome da praia, para poder apreciá-los em seu habitat natural.

Mas os guias turísticos logo criaram um nome, mais atrativo, e porque não dizer, mais comercial. E assim, juntamente com os que chegam, vão modificando tanto os nomes primitivos como a sua própria geografia com os desmatamentos, construções irregulares, costumes e hábitos nem sempre saudáveis à população, e se não houver providências urgentes, só Deus sabe o que ainda será modificado.

E assim vão aos poucos, sorrateiros, transformando o que o um povo tem de mais importante: sua cultura e tradições. E o que preocupa é a aceitação passiva pelos nativos das gerações mais recentes, deslumbrados com o novo estilo de vida imposto pelos que chegam. Não quero com isso me colocar na contramão do desenvolvimento, apenas alertar para como esta sendo feito, pois considero a atual situação, no mínimo preocupante.

Pois bem, foi motivado por tudo isso que resolvi aceitar o desafio na tentativa de preservar a memória da Pipa e alertar as pessoas quanto à manutenção de suas raízes e tradições.Procurei dividi o que iria escrever de maneira que pudesse iniciar pelo estudo etnológico resgatando sua história desde que lá chegaram os franceses, atraídos pelo nosso Pau Brasil. Prossegui contando a saga dos primeiros veranistas que viajavam de Goianinha até a Pipa em charretes, cabriolés e carros de bois.

Procuro fazer um relato de suas histórias pitorescas durante os veraneios. Abri espaço pra fazer uma justa homenagem aos que já não se encontram entre nós com a série “saudosos veranistas”. Essas, porém são as mais difíceis de serem escritas, pois me remetem a um tempo que, junto com eles, participei da maioria das brincadeiras relatadas, e isso inevitavelmente, me traz uma enorme e dolorida saudade.

ACTAS DIURNAS - MANIFESTAÇÕES

Ormuz

Infelizmente não será possível, mas valeu a intenção. Novas idéias com certeza surgirão.

Cabral

ACTAS DIURNAS - MANIFESTAÇÕES

Não se aborreça com o fato, amigo. Voce está escrevendo a sua própria história e eles o fazem sem mostrar o brilho PESSOAL Precisam do mestre Cascudo para isso. É uma pena... enquanto isso, uma editora do sul publicou várias obras de Cascudo. Será que questionaram? Mas não impediram.....
Toque o seu blog com outras coisas.
Um grande abraço de Ano novo.
Conceição

ACTAS DIURNAS - MANIFESTAÇÕES

Ormuz:

General Castelo Branco dizia que:

... de bem intensionados estão cheios os cemitérios...

O nosso Estado está cheio de jornalistas com crônicas diárias esquecidas no tempo.

Deixe os herdeiros de Cascudinho cuidarem do seu patrimonio, não ache ruim.

Procure no seu entorno e vai achar pedras da mesma qualidade e de quilate maior, talvez.

O resgate dessas matérias está clamando por nossa ajuda.

Sugiro DANILO, Dr. Aderbal de França, só para começar.

E, no final de 2010 daremos a nossa resposta.

Sem mais comentários, feliz por me tornar blogueiro.

Viva Manoel Neto, viva Felipe, viva Anderson, viva Jesus de Miudo, viva o Teorema da Feira e todos os que comprovam que Natal está intelectuamente mais viva do que antes.

Aos seus e aos nossos, afetos genealógicos que estão no nosso DNA Potiguar.

Ouse sempre.
Edgar

ACTAS DIURNAS - MANIFESTAÇÕES

Amigo Ormuz:

Bom dia!

Cascudo é um diamante transformado em jóia e, como vê, tem dono.

É roteiro, é caminho e, muitas vezes, fonte.

Quando ele se foi Oswaldo Lamarine, acho, indagava - E agora à quem vamos perguntar
as coisas?

Estão ditas, todas, nos seus escritos, e Zila o dimensionou quase todo.

Tem os seus cultores e herdeiros.

Não é mais para ser o centro das nossas anotações, pesquisas, preocupações.

Temos coisas mais importantes para fazer.

Esta semana Felipe, no rastro de Cascudo, resgata José Borja, e Anderson o Professor

Caetano e Mário Tavares, veja só.

No mais, Paz e Saúde em 2010.

ACTAS DIURNAS - MANIFESTAÇÕES

Meu Caro Ormuz,
No período em que se dedicou a pesquisa, para tornar possível a publicação dos seus escritos genealógicos, sei que se apaixonou pela obra do mestre Câmara Cascudo. Colecionou seus livros, e tornou-se aprendiz de bibliófilo.
No ano de 1986, um dos jornais de Natal publicava a seguinte manchete: "Há uma vaga de gênio na cultura do RN". Uma manchete impactante para anunciar a morte de um gênio. Chorávamos com a partida de Câmara Cascudo.
Os legítimos representantes da cultura, como gostava de dizer meu professor, Berilo Wanderley, de saudosa memória da “tupiniquim até o sul maravilha”, já falaram - e ainda falarão - sobre o nosso grandioso Cascudo.
Quando jovem, e não faz muito tempo, li, nesse mesmo matutino, uma frase de abertura de um discurso de agradecimento de uma homenagem que recebera no Museu que hoje leva o seu nome. E iniciava assim: "Acabo de fazer uma transformação miraculosa no campo da fisiologia. Estou ouvindo com o coração porque a minha audição anoiteceu, e eu perdi a intimidade do som". É desnecessário lhe dizer o quanto somos iguais, quando o assunto é Cascudo. Por isso, peço-lhe que, ao invés de insistir em publicar seus textos em seu blog, vamos divulgá-lo com os registros que são do conhecimento público, e, portanto, distante das amarras. Se vivo fosse, seguramente, não estaria muito interessado nessas questões menores. A sua satisfação, e eu sei, é apenas divulgar os textos que, quando estamos (re)lendo, nos sentimos privilegiados de tê-lo conhecido, e orgulhosos em podermos dizer: Sou conterrâneo de Câmara Cascudo. O mais, é uma triste confirmação do lamento do Eclesiastes: nada há de novo debaixo do Sol...
Saudações Cascudianas
Arnilton